"Em The meme machine, publicado nos EUA em 1999, Susan Blackmore defendeu que a história evolutiva do homem tem sido perversamente guiada pela lógica de unidades culturais de imitação chamadas memes. Basicamente, memes são idéias, informações, que se reproduzem de mente para mente, de ser humano para ser humano: memes são “instruções para realizar comportamentos, estocadas no cérebro (ou em outros objetos), e passada adiante por imitação” (Blackmore, 1999, p. 43). Na verdade, segundo a autora, nós, seres humanos, e nossos cérebros, seríamos máquinas de reprodução de idéias. O mecanismo para essa reprodução de idéias seria a imitação mais especificamente a aprendizagem. Não era a primeira vez que o mundo dos conceitos e de sua multiplicação procuravam insidiosamente tomar as rédeas da história do homem. O filósofo da mente Daniel Dennett já afirmara anteriormente que a evolução biológica de todos os seres vivos, incluindo o homem, poderia ser interpretada como um processo algorítmico, no qual os elementos fundamentais seriam a hereditariedade (genes), a variação (mutação) e a seleção natural (reprodução diferencial) (Dennett, 1990, 1998; Runcinan, 1998). Para Dennett, os genes são replicadores genéticos que existem há bilhões de anos e nós, criaturas feitas basicamente de proteínas, somos suas máquinas de sobrevivência, formas pelas quais os genes mantêm íntegro o significado de suas mensagens por um tempo, não raro, milhares de vezes maior do que a duração de uma vida humana e mesmo de toda uma espécie e a humanidade. Entretanto, no caso específico do Homo sapiens, um segundo tipo de replicador, os memes, teriam sido coresponsáveis não só pelo crescimento do cérebro e pela indústria de ferramentas, mas também fundamentalmente pelo que chamamos de cultura e sociedade. Exemplos de memes ou “unidades memoráveis distintas” são: arco, roda, vestir roupas, vingança, triângulo retângulo, alfabeto, a Odisséia, cálculo, xadrez, desenho em perspectiva, evolução pela seleção natural, impressionismo, Greensleeves, desconstrutivismo (Dennett, 1998, p. 358). Como os genes, os memes poderiam ser compreendidos se prestarmos atenção: 1) ao processo hereditário pela qual as informações culturais se reproduzem em populações de cérebros humanos (horizontal e verticalmente), 2) ao processo que faz com que as informações culturais variem, e 3) ao processo de seleção de informações culturais, dado o número limitado de Episteme, Porto Alegre, n. 16, p. 23-44, jan./jun. 2003. 27 cérebros e uma virtual infinidade de idéias, fragmentos de idéias e complexos de idéias no pool de idéias. Quase vinte anos antes de Dennett, em 1976, Richard Dawkins defendeu pela primeira vez essa estranha idéia: [O meme é] uma unidade de transmissão cultural, ou unidade de imitação. "Mimeme” vem da raiz grega adequada, mas quero um termo que soe mais como “gene”...Também se pode pensar que ele está relacionado com “memória” ou com a palavra même, do francês... Exemplos de memes são melodias, idéias, expressões, estilos de roupa, maneiras de fazer potes ou construir arcos. Assim como os genes se propagavam no pool gênico saltando de corpo em corpo via espermas ou óvulos, os memes se propagam no pool memético saltando de cérebro em cérebro por um processo que, no sentido mais amplo, pode ser chamado de imitação. Se um cientista ouve falar ou lê a respeito de uma idéia, ele a transmite para seus colegas e alunos. Ele a menciona em seus artigos e palestras. Se a idéia for bem sucedida, pode-se dizer que ela se propaga, espalhando-se de cérebro em cérebro (Dawkins, 1979, p. 214)".
WAIZBORT, Ricardo. Dos genes aos memes: a emergência do replicador cultural. Episteme, Porto Alegre, n. 16, p. 23-44, jan./jun. 2003.
Saiba mais acessando este artigo na íntegra: Artigo de Ricardo Waizbort
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