O conceito de leitura está geralmente restrito à decifração da palavra escrita. É muito comum ligarmos a prática da leitura ao universo dos livros. O ato de ler está intrinsecamente ligado à escrita, porém este não se limita somente a um livro, revista, jornal etc. De acordo com Martins (1994, p. 7), “não basta decifrar palavras para acontecer à leitura. Podemos ‘fazer a leitura’ de um gesto, de uma situação; ‘ler a mão’, ‘ler o olhar e o comportamento de alguém’, ‘ler o tempo”. O ato de ler vai, pois, além da escrita. Neste sentido Louis Marin (1996, p. 117) faz algumas indagações: “Lemos uma carta, um poema, um livro: como é ler um desenho, um quadro, um afresco? Pois se o termo leitura é, imediatamente, adequado ao livro, também o é ao quadro?”.
O autor fala ainda que o quadro é uma forma de escrita, ou, ao menos, de inscrição, que possui características e propriedades específicas, contudo, aparentam-se com o texto escrito ou, sobretudo lido ou legível.
Essa “leitura de mundo”, das coisas ao nosso redor, é tão necessária quanto à leitura de um livro. É ela que nos coloca em contato com a realidade individual e a realidade do mundo. Além do mais, “seria contra-senso insistir na importância da leitura restringindo-a aos livros ou, quando muito, a textos escritos em geral”, afirma Martins (1994, p. 28). Milhões de pessoas, como analfabetos espalhados pelo mundo, que não tem a leitura da escrita no seu cotidiano, porém lêem a realidade ao seu redor, lêem formas, gestos, desenhos; e essa leitura de mundo, permite compreender e valorizar melhor cada passo do aprendizado dessa realidade, que independe do contexto escolar e vai para além do texto escrito.
Seria preciso considerar a leitura como um “processo de compreensão de expressões formais e simbólicas, não importando por meio de que linguagem”. (MARTINS, 1994, p. 30). De acordo com a autora, o ato de ler se refere tanto a algo escrito quanto a outros tipos de expressão do fazer humano. Uma “leitura das coisas ao redor” que precede a leitura do texto escrito (FREIRE, 1984, p. 12, tradução nossa) e para se obter esta segunda leitura é preciso compreender a primeira, como um “túnel” que conduz para o aprendizado crítico da realidade individual.
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